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Julho / 99

SÉRIE NÓBEL 
1935
Por Anahi Guedes de Mello

 
             Repetindo a façanha de Marie e Pierre Curie, seus pais e sogros, o casal de pesquisadores Irene e Jean-Frederic Joliot-Curie foram os laureados com o Prêmio Nobel de Química de 1935, pelas descobertas do primeiro isótopo radioativo artificial e do pósitron.
            Irene e Frederic nasceram em Paris, nos dias 12 de setembro de 1897 e 19 de março de 1900, respectivamente. Eram duas pessoas que compartilhavam seus interesses em ciências, esportes, humanismo e artes. Envolveram-se em várias causas político-pacíficas, tendo grandes  responsabilidades sociais e lutaram  contra os regimes totalitários do Fascismo e Nazismo que dominaram a França durante a Segunda Guerra Mundial, com Frederic chegando a fazer frente militar ao organizar a produção de explosivos. Seu próprio laboratório, no College de France, tinha servido como arsenal na batalha pela libertação de Paris que, por isso, em reconhecimento pelos serviços prestados, ele foi designado comandante da Legião de Honra com um título militar e condecorado com a Ordem de Guerra.
           Irene Curie iniciou o equivalente ao Ensino Fundamental praticamente em casa, educada pela mãe já famosa, com quem teve suas primeiras aulas de Física. Sua mãe tinha amigos que também eram professores; assim, resolveram formar uma espécie de cooperativa do ensino, comprometendo-se a ensinarem a seus filhos e aos dos colegas a matéria de sua especialidade. De 1912 a 1914, Irene preparou-se para enfrentar seu “baccalauréat” (espécie de vestibular) no Collegge Sevigné, onde obteve o grau de bacharel em Ciências. Em 1918, tornou-se assistente de sua mãe, no Instituto de Radium da Universidade de Paris, lá onde, em 1925, apresentou sua tese de doutorado sobre os raios alfa do elemento polônio. Naquele mesmo ano, ela conheceu seu colega de laboratório e futuro esposo, Jean-Frederic Joliot.
           Frederic era um estudante do Lycée Lakanal, um colégio interno, e sempre se distinguiu mais em esportes do que nos estudos. Entretanto, reversões na fortuna de sua família forçou-o a escolher uma educação pública na Escola Municipal Lavoisier, preparando-se para mais tarde competir por uma das disputadas vagas na Escola de Física e Química Industrial de Paris, onde graduou-se em 1o lugar em Engenharia. Depois de ter completado seu serviço militar, recebeu uma bolsa de pesquisa e, por recomendação do físico Paul Langevin, foi contratado, em outubro de 1925, como assistente de Marie Curie.
Irene e Frederic casaram-se no ano seguinte, dia 09 de outubro de 1926 e tiveram dois filhos, Helene e Pierre. No ano de 1927, Frederic dedica-se simultaneamente a novos estudos, com vistas a obter sua licença em Ciências. Para aumentar suas finanças, ele ensinou na Escola de Eletricidade Industrial Charliat. Aprendeu técnicas de laboratórios sob os conselhos de sua esposa. No início de 1928, eles ingressam, em conjunto, nos trabalhos científicos que viriam a culminar, mais tarde, naquelas descobertas que os levariam à glória e ao triunfo do Prêmio Nobel e, com isso, continuou-se a saga vitoriosa da família Curie. 
 Em 1934, os Joliot-Curie, buscando provas da existência do pósitron, uma partícula semelhante ao elétron, mas com carga positiva, bombardearam uma lâmina de alumínio 27 com partículas alfa, obtendo, em alguns minutos, um isótopo radioativo do fósforo, o fósforo 30.
              Um átomo estável de alumínio possui 13 prótons e 14 nêutrons que, ao atrair para si uma partícula alfa, seu núcleo fica ainda mais pesado e expele 1 nêutron, contendo, assim, 15 prótons e 15 nêutrons, que é o átomo instável fósforo 30, o primeiro isótopo radioativo criado em laboratório. Mais tarde, eles confirmaram sua existência através de análise química, fixando tal feitio por meio de fotografias colhidas em câmara de vapor, conhecida como câmara de Wilson. O fósforo 30 desintegra-se por emissão de pósitron, transformando-se em silício 30, com uma meia-vida de 2 min e 30 s; o pósitron é resultante da desintegração do próprio próton. 
             Depois da libertação da França, em 1944, Frederic foi eleito membro da Academia de Ciências. Empossado diretor do Centro Nacional de Pesquisas Científicas, criou a Comissão de Energia Atômica, onde também Irene teve projeção no campo das suas pesquisas. Irene foi diretora do Instituto de Radium e, usando também das suas habilidades como administradora, prosperou na execução e instalação do primeiro reator nuclear da França, o que culminou no fim do monopólio anglo-saxônico. 
            Irene faleceu em 17 de março de 1956, em Paris, vítima de leucemia como sua mãe; Frederic, em 14 de agosto de 1958, em Arcouest, como conseqüência de um relapso nervoso causado por hepatite.

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